quarta-feira, 24 de junho de 2009

A inclusão de portadores de necessidades especiais no sistema regular de ensino.

Há muito tempo vem se discutindo as praticas inclusivas nas diferentes modalidades de ensino, esta discussão atem-se principalmente ao ensino básico que compreende desde a primeira série do ensino fundamental até o ensino médio esta è uma discussão e preocupação presente na atuação de profissionais nas diversas áreas envolvidas no desenvolvimento humano: Psicologia, Medicina, Psicopedagogia e a educação, ou seja, na transformação do espaço que receberá esta criança portadora de necessidades especiais.

Ao longo dos tempos, os sujeitos com necessidades educativas especiais começaram a receberes olhares e uma atenção maior, como é visto na Declaração de Salamanca, e a Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, ambas afirmam que toda a criança tem direito a freqüentar as escolas regulares. “A violação de direitos é, sem duvida um dos mais significativos entraves à democracia e a paz”.(CARVALHO 2000, p.19).

É importante num primeiro momento ressaltar que inclusão trata-se de uma pratica diferente da educação especial, pois necessitamos quebrar com este mito de educação especial-inclusão, pois educação é somente uma, não existe uma regular e outra especial. Precisamos pensar na “Possibilidade de construirmos cenários otimistas a partir para a inclusão/intergraçao dessas pessoas, o que significa oferecer educação de qualidade para todos, TODOS” (CARVALHO 2000, p.15).

É importante que ao possibilitar uma educação escolar de qualidade é importante prestar atenção ao que se refere á exclusão desse sujeito que possivelmente estará dentro da sala de aula. “No âmbito escolar há que se referir duas formas de exclusão: a que impede o acesso e o ingresso de pessoas deficientes nas escolas regulares e a que expulsa as que ingressam”.(CARVALHO 2000, p.23).

O principal motivo dessa exclusão é a desculpa de que não há professores e especo físico adequado para atender as necessidades daquela criança, mas “em sala de aula muitas das barreiras podem ser enfrentadas e superadas graças à criatividade e a vontade do professor que se percebe como profissional da aprendizagem em vez de ser o tradicional profissional do ensino. (CARVALHO APUD DEMO 2000, p.62)”.
Em todas as definições tradicionais e mecanicistas sobre a educação especial, aparece sistematicamente um obstáculo que pode ser considerado como insalvavel: em que sentido seria possível afirmar que, por exemplo, os surdos, os deficientes mentais, os cegos, etc., são sujeitos educativos especiais, diferentes dos outros grupos, também especiais, mas que não foram submetidos a essa particular cosmovisao e organização da educação? (SKLIAR 1997, p.9)


Educação Infantil: um espaço de ensino-aprendizagem.

Durante muitos séculos as crianças eram atendidas por sua família normalmente sua mãe ou outra mulher. Depois de passar pelo período da dependência, começava a fazer parte da vida adulta. Mais tarde surgiram as instituições, por isso as denominações creche que vem do termo francês “creche”, equivalente à manjedoura, presépio e o termo italiano “asilo nido" que indica ninho que abriga. Escola materna foi outro temo utilizado para se referir a estes espaços de atendimento a criança (OLIVEIRA apud SANTOS 2004, p.33).

A educação infantil vem sofrendo constantes discussões para definir qual o seu papel no desenvolvimento psíquico e social do ser humano, passou de creche, um local onde as crianças freqüentavam somente para serem olhadas enquanto a mãe estava trabalhando. Com o passar do tempo, passou a ser escola de educação infantil, um espaço de construções e aprendizagens e trocas entre crianças e adultos.

Embora não seja um assunto muito comentado, na educação infantil também existe a possibilidade de inclusão, uma vez que a criança portadora de necessidades especiais tenha acesso à escola regular em todas as suas modalidades. Navarro(2004, p.35) afirma que è importante que “nos convençamos de uma vez por todas de que os principais valores que há na escola são as próprias crianças. Com suas diferenças, suas características, suas peculiaridades”


A voz e a vez das crianças.

As crianças são os maiores envolvidos no processo de inclusão, sendo elas inclusas ou os colegas que conviverão com a criança portadora de necessidades educativas especiais. Infelizmente a opinião das crianças raramente é ouvida, pois além de serem consideradas ignorantes por supostamente possuírem pouca experiência de vida e pouco estudo. Mas ao pesquisar a etiologia da palavra infância, fase da vida na qual as crianças se encontram descobre-se que infância vem de infante, que em latim significa incapacidade de falar.

SANTOS (2004, p.44) afirma que “considerar a linguagem infantil como algo repleto de significados é algo recente na educação”. Mas ao dar ouvidos para as crianças percebe-se que ele tem muito a dizer e muito a contribuir, principalmente quando à nossa pratica pedagogia, referente á inclusão, ou não.

Ao dar ouvidos e vozes para as crianças, no que se relaciona com a inclusão é possível ter uma clareza maior de quais as necessidades delas, da criança inclusa e da própria escola, só é preciso ter “orelhas verdes” como no poema de Gianni Rodari, presente no livro Com Olhos de Criança, de Francesco Tonucci

O homem da orelha verde
Um dia num campo de ovelhas
Vi um homem de verdes orelhas
Ele era bem velho, bastante idade tinha
Só sua orelha ficara verdinha
Sentei-me então ao seu lado
Afim de ver melhor, com cuidado
Senhor, desculpe minha ousadia, mas na sua idade
De uma orelha tão verde, qual a utilidade?
Ele me disse, já sou velho, mas veja que coisa linda
De um menininho tenho orelha ainda
É uma orelha-criança que me ajuda a compreender
O que os grandes não querem mais entender
Ouço a voz dos passarinhos
Nuvens passando, cascatas e riachinhos
Das conversas das crianças, obscuras ao adulto
Compreendo sem dificuldade o sentido oculto
Foi o homem de verdes orelhas
Me disse no campo de ovelhas.
GIANI RODARI (TONUCCI,2003 p.13)

O autor Francesco Tonucci, tem a capacidade de perceber o que as crianças falam, transformando essa linguagem infantil de maneira que o adulto também possa compreendê-la.
Tonucci (2005 p.17) afirma que “conceder a palavra as crianças não significa fazer-lhes perguntas e fazer com que responda aquela criança que levantou a mãe primeirolugar (...) dessa forma conseguem-se somente esteriótipos.”

Quando questionada se uma criança deficiente mostrada em uma foto para um grupo de crianças de 4 e 5 anos, todas as crianças responderam em coro “não” ao ouvir essa reposta em um primeiro momento seria possível pensar que as crianças estavam sendo preconceituosas, em relação ao “diferente”, pois todos o consideraram feio e engraçado.

“é uma coisa muito feia” I-5 anos
“eles estão machucados” Bre- 5 anos
“essa é engraçada” J.G- 5 anos

Logo após essa primeira discussão, um dos meninos olhos para os colegas com cara de brabo e disse xingando os colegas:

“não é feio e nem engraçado”
Após este primeiro contato visual, as crianças foram questionadas sobre quais as diferenças das crianças das fotos apresentadas, todos comentaram dos defeitos físicos, comparando a personagens de tv vistos em novelas, programas, comerciais, filmes ou vistos nas ruas.

Outro questionamento feito às crianças foi quanto a questão dessas crianças com necessidades especiais estudarem na nossa escola, nesse momento, como dito acima, todos afrimaram não. Quando foi questionado o porque dessas crianças não pudessem estudar na escola surgiram diferentes repostas.

“porque eles não sabem nosso nome” R-5 anos
“eles não podem brincar no pátio, usam esses carrinhos” J.G- 5 anos
“não enxergam e tem o braço pequeno, não conseguem pegar os brinquedos” V-5 anos

Uma das meninas afirmou que eles nao poderiam estudar na escola pois “não são iguais a gente” Ju-4 anos. Resposta rebatida por E 5-anos que respondeu “mas olha a cara da R é diferente da minha, agente é tudo diferente!”

Foi percebido que para essas crianças, são poucos entraves que dificultam a estada dessas crianças na escola regular, apenas questões que após algumas técnicas de sensibilização, como brincar com os olhos vendados, sem poder falar, ou sem poder levantar-se do chão uma das crianças comentou “não é difícil brincar né tia, a Flor consegue” I-5anos, referindo-se a personagem Flor, da novela América.

Após a conversa com crianças que não tem contato com a inclusão, foi procurado um grupo de crianças com a mesma faixa etária, que possui dois casos de inclusão, uma física, e uma mental. Uma menina que nasceu sem um dos braços e uma menina com Síndrome de Down e problemas de visão.

A conversa com esse grupo foi mais voltada as questoes do dia a dia vividas pelas crianças. Nesse grupo vê-se claramente as falas que os pais realizam em casa, onde os pais excluem claramente a menina T de 6 anos que é portadora da sindome de down.mas tratam com igualdade a M.A que não possui um braço, ajudando somente esta, pois “ a T. estraga os nossos trabalhos” L. 5-anos. Ou “minha mae disse que não é para eu cuidar da T” P- 6 anos

Durante a conversa com essas crianças percebe-se claramente a falta que sentem da professora que deve dispor de muita atenção a T. que necessita de uma ajuda maior.

“A profe fica com a T. mas a M.A também precisa de ajuda” P-5 anos

Quando questionadas de elas precisam de ajuda, logo uma das meninas rebateu: “agente não è cega, não precisa de ajuda” L – 6 anos que foi respondido por outra menina “agente precisa de ajuda sim, agente é criança e não sabe de tudo” M – 4 anos.

Considerações finais.

O presente artigo tenta trazer a tona um pouco do que as crianças podem nos oferecer quano o assunto é inclusão de portadores de necessidades educativas especiais, que apesar de ser um assunto considerado “batido” ainda tem muito o que ser discutido e pensado. E ninguém melhor do que as próprias crianças para nos dizer aquilo que muitas fezes os pesquisadores e professores não conseguem.

É claramente perceptível nos discursos dos dois grupos, a necessidade da atenção do adulto, um olhar mais sensível que perceba a verdadeira necessidade de todas as crianças envolvidas neste processo e não somente da criança portadora de necessidades especiais, pois somente quando todos os envolvidos estiverem incluídos em um mesmo contexto, quando todas as crianças forem percebidas como sujeitos diferentes que necessitam de atenção especial. As crianças do primeiro grupo deixou bem claro a preocupação com a possibilidade de brincar, base da educação infantil, com essas crianças. Ao demonstrar para estar crianças que seria possível brincar com uma criança PNEE, despreocuparam-se. Já o segundo grupo, apresentou uma preocupação referente á atenção dispensada a essa menina PNEE, atenção que é possível de ser dada a todos quando a escola possibilita isso.

Referências Biliográficas
CARVALHO, Rosita Edler. Removendo barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva. Porto Alegre, RS: Mediação, 2000
SANTOS. Lea Cristina Borges.Infante ou falante. 2004, monografia não publicada
SKLIAR, Carlos Bernardo; CECCIM, Ricardo Burg; LULKIN, Sérgio Andrés; BEYER, Hugo Otto; LOPES, Maura Corcini. Educação e exclusão: abordagem sócio-antropológicas em educação especial . Porto Alegre, RS: Mediação, 1997
TONUCCI, Francesco. Com olhos de criança.Porto Alegre, RS: Artes Medicas, 2003
Clarissa Paz de Menezes
Aluna do curso de Pós Graduação Psicopedagogia
cla@feevale.br
Alexsandro Soares - Publicado em 22/02/2007 s 15h43

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário